terça-feira, 7 de outubro de 2014

Em um banco qualquer...



Centro da cidade. Horário de pico. Pessoas correm para lá e para cá, apressadas, todas em busca de algo que, acredito eu, nem elas sabem o que é. No meio desse caos, me permito parar alguns minutos, sentar nesse banco surrado da praça principal e simplesmente observar. Vejo as sombras, o trânsito, os anseios, as preocupações… Elas se cruzam, se chocam, mas nem se percebem. Entro em um estado de torpor. Não escuto nitidamente o que está em torno de mim. Meus pensamentos perversos e teimosos me levam ao lugar de onde nunca saíram na realidade: você. Depois que a barreira onde as suas memórias estão guardadas é arrombada, não adianta mais lutar contra a enxurrada de perguntas que me veem a cabeça: onde está você, quais são seus planos, o que anda fazendo, o que mudou e, principalmente, você ainda pensa em mim? Sua imagem aparece nitidamente na minha mente, seu rosto sério, seu barba rala, seus olhos profundos, suas mãos tão quentes. Instantaneamente sinto o conhecido aperto no peito, o nó na garganta, o frio na barriga. É a saudade gritando, querendo sair, querendo se expressar. Flashes de nós dois, sentados exatamente nesse mesmo lugar, passam em frente aos meus olhos. Pisco várias vezes, tento desconectar desse filme louco, mas não consigo. De repente estou ouvindo sua voz, sentindo seu hálito perto, suas promessas tão reais. Nessa mesma fita, inevitavelmente, estão gravadas também as recordações que me fazem chorar. Lembro que nossa história não foi só de júbilo. Teve medo, grito, raiva, mágoa, dor. E ainda estou sentindo esse sabor amargo, desde o dia em que você foi e não voltou. Desde o dia em que você nem olhou para trás, só seguiu em frente, com a sua vida. Sem mim, sem nós. O choque dessas memórias me fazem voltar a realidade. Os sons grosseiros da cidade grande me tomam por completo, o movimento desconexo me acorda, a corrida do nada me chama de volta. Levanto devagar, ainda sintonizando no presente, tentando guardar você no lugar mais escuro e protegido da minha cabeça. Como é difícil, sempre prometer a mim mesma que essa será a última vez. Olho o relógio, o tempo continua voando. O mundo me espera. Queria poder parar tudo, o ritmo está alucinado demais. Mas preciso me jogar de volta à órbita. É nesse redemoinho que consigo ignorar sua existência. Consigo fingir para meu coração que não é você, não é saudade e não era amor.

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