Hoje foi um daqueles dias em que cada silêncio abria porta para uma infinidade de pensamentos destrutíveis. Cada lembrança trazia com ela uma série de imagens que há muito tempo estavam escondidas na parede da mmória. Antes das dez da manhã ela já tinha revivido grande parte da infância e por volta da hora do almoço, se debatia com os dilemas da adolescência. Agora, junto com o escuridão, a noite trouxe a preocupação e os remorsos da vida adulta.
Depois de analisar tão de perto cada pedaço de quem foi e de quem agora é, é impossível não sentir que algo deu muito errado no percurso dessa estrada que é a vida. Hoje ela pode dizer com toda certeza que não é nem 1% da pessoa que queria ser. A menina que ela foi não se orgulharia da mulher que se tornou. Pior do que isso, essa menina não reconheceria essa mulher; para ela, essa adulta seria uma estranha, alguém a ser evitado, um não-exemplo a ser seguido. A menina que ela foi está lá no fundo de quem hoje ela é, olhando cada escolha errada que foi feita e, silenciosamente, discordando de todas.
A mulher de hoje, vira e mexe olha para a menina escondida nos escombros dos anos e tenta seguir aquilo que estava no mapa, nos planos, nos sonhos. Mas nesse percurso que foi previamente traçado, infelizmente não tem os avisos dos lugares que deveriam ser evitados, nem das pessoas que a mulher deveria se afastar. Na imaginação da menina não tinha espaço para os detalhes difíceis da vida, pois para ela bastava seguir em frente, seguir o certo e pronto, chegaria em algum lugar.
Com a cabeça no travesseiro, a mulher está entre dormir e acordar, sonhar e viver a realidade. Ela deseja com todo coração que o dia de amanhã não traga lembranças amargas, mas sim uma grande borracha para apagar tudo que está tão errado. Assim, cada detalhe fora do lugar, cada palavra dita no momento errado, cada entrega que não poderia ter sido concretizada, tudo, tudo seria esquecido, arquivado, recortado de quem ela quer ser de agora em diante. A mulher promete para si mesma, para o céu e para quem puder ouvi-la que se essa borracha invisível pudesse apagar tudo, ela iria, com toda força que ainda possui e toda a vontade que ainda restou, reescrever toda sua história. E a menina que está presa nas cinzas do seu coração poderia ir na frente de tudo, abrindo portas e janelas, enchendo tudo de fé e esperança, até chegar, finalmente, no endereço final.
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