domingo, 7 de maio de 2017

Você

Nosso início foi desanimador, eu sei. Você vivia me lembrando de todas as vezes que eu, sem explicação, te afastava de mim e arrumava péssimas desculpas para não sair com você. Mesmo te explicando detalhadamente, sei que isso sempre foi algo que trouxe uma certa insegurança para nosso relacionamento (aliás, posso me referir ao que tivemos como um relacionamento?). Depois dos meses de insistência e do nascimento da nossa amizade, é que percebi o quanto você era especial e o quanto eu queria te ter por perto, bem perto. Em umas das nossas loucas conversas, percebi sua doçura escondida e, para minha total surpresa, quis essa doçura para mim. Então, eis que de fato nossa história tomou uma forma mais real e nos tornamos algo além das conversas sem fim.

Mês um, você e eu cada dia mais presos na nossa própria realidade. Como nos entendiámos, como era fácil falar com você, dividir meus medos, meus planos, minhas 
vontades. Você, relutante como uma porta emperrada, se abria aos poucos e eu, surpresa novamente, gostava mais e mais do que descobria escondido debaixo da casca grossa. Você se tornava tão complexo e tão interessante, ao mesmo tempo. Que viagem louca era estar com você, mas ao mesmo tempo era suave, calma e silenciosa. 

Mês dois, meu preferido com toda certeza. É para esse Janeiro que eu queria, desesperadamente, voltar. É para às noites de beijos e conversas que eu queria voltar; é 
para as cervejas compartilhadas, os brigadeiros dividos, os sonhos sussurrados, que eu queria retornar; as manhãs iniciadas tão cedo, as tardes cheias de coisa alguma, as brincadeiras, as suas fotos tão intímas que você fez questão de me mostrar... Foi nesse mês que você abriu a maior brecha para eu entrar e só hoje eu percebo que não entrei como deveria. Eu tive medo da sua reação, caso eu entrasse fazendo o maior barulho e exigindo tanto espaço; tive medo de entrar e gostar tanto e não querer ir embora; tive medo de você perceber que antes, sem mim, era melhor. Eu tive medo, tenho medo, medo, medo que me acompanha nas coisas mais sútis e importantes.

Mês três, foi um borrão parecido com o mês anterior, mas ainda melhor. Você, tão frágil como você sempre foi, me colocou um pouquinho mais para dentro da sua vida. E eu, ainda com meus fantasmas, não tentei em nenhum momento colocar você para dentro da minha vida. Mas olha, deixa eu te explicar, não era por falta de vontade, eu queria você todo na minha vida, até nas partes chatas e problemáticas. Só que eu enfiei na minha cabeça que, se você entrasse, ia odiar a bagunça e ia sair correndo de tudo, de mim, de nós. E, tenta entender, àquela altura eu não já não suportava a ideia de te ver partir. Já era uma coisa monstruosa te imaginar longe. 

Mês quatro, lembra a cena ridícula de ciúme que eu protagonizei? Foi ocasionada por isso também, eu juro! Que mês mais louco. A gente tentou ficar longe, eu fui de fato embora (literalmente), mas eu queria voltar, eu queria estar com você mais do que queria viver o meu sonho de ir embora. Eu sentia uma saudade tão dolorida dos nossos dias juntos, que nem fiz tanta força para ficar, para tentar, para perpertuar meu sonho. Nunca contei isso para ninguém, mas não fiz força para ficar lá porque tudo que eu queria era voltar.  Por sua causa. Não me julgue, não ria de mim. Eu já te amava e nem sabia.

Mês cinco, esse mês nem deveria contar, mas conta. Tantas idas e vindas, tantos desencontros e reencontros marcados. Eu só desejava que tudo voltasse como era antes, 
mas não era, eu sentia que algo tinha se partido. Mesmo assim, mesmo com essa lacuna, a gente foi levando e sendo levado. Quando te vi arrumando suas malas, todo feliz, me obriguei a ser feliz por você, mesmo sabendo que estava te perdendo para o mundo. Você veria tantas coisas novas, tantas pessoas novas e eu seria só mais uma memória. Eu não queria ser memória, apesar de não querer ser esquecida. Queria sim ser presente, mesmo que adiado para o futuro. Esperei você se despedir de mim com promessas guardadas pro seu retorno, mas você só me disse tchau. Seco e simples, sem nem um até logo. Mas eu esperei você, ah sim. 

Mês seis, esse de fato nem conta, me desculpa por estar incluindo-o aqui. Esse mês resume-se a sua volta e sua ida. A volta foi maravilhosa, compensou toda espera. Sentir seu cheiro, seu gosto, você inteiro depois de dias e dias longe, foi mais uma prova que eu estava me perdendo mais e mais. Ou, olhando com mais calma, já tinha me perdido faz tempo. Foi tão bom, eu ainda lembro daquele dia como se fosse agora. Mas seu tempo (nosso tempo?) se esgotou e você precisou partir, tocar o barco, virar a página. Inclusive, palmas para você, que vira a página de forma tão fácil. Enfim você se foi, não deixou atrás de si nada além de lembranças, uma pequena mágoa e muito amor.

Eu poderia continuar contando nossos meses, você sabe que sim. Mesmo longe, tão longe, éramos nós ainda. Éramos nós nas conversas até tarde; éramos nós nos segredos ainda divididos; éramos eu e você na vontade de estar perto, mesmo que tão disfarçada. Quanto tempo passamos assim... Um ano, talvez. Um ano esperando um sinalzinho seu e um rompante de coragem meu para definir tudo isso. Um ano com tudo pausado, só aguardando para continuar o que eu não queria ter parado. Mas nem toda espera resulta em algo, não é mesmo? Esperei, esperei... E você saiu por aí, longe de mim. Não sei o motivo, não entendo suas razões, mas tudo 
isso te colocou longe de mim. Estranho como fatos misturam-se com os dias, as semanas, os meses. Estranho que tudo vire nada, do dia para a noite. Você não acha?


P.S.: Mês qualquer, eu venci parte dos meus medos e disse tudo que sentia por você. Arreganhei meu coração, cuspi todas as verdades que eu escondi... Eu me despi em 
palavras, todas para você. Obrigada pelo silêncio, ele me respondeu tudo que eu precisava saber. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário