domingo, 30 de julho de 2017
No .
Sei o que quero falar, mas não sei com que palaras dizer, quais caminhos tomar, se alguém vai me ouvir. Coloco a caneta de lado, o papel em branco parece um dia fechado, busco uma luz, mas a neblina me cega. Fecho os olhos e as letras voam em minha direção, perdidas assim como eu, com sérias dificuldades para se juntarem e formarem palavras com nexo, cor e sentido. Só que sei que elas estão lá, esperando para o encontro perfeito, a organização que as farão ter valor e príncipio. As letras, frases e rimas são minhas velhas amigas, elas moram aqui, em mim, há tanto tempo, talvez desde sempre, mas nos perdermos umas das outras, brigamos algumas vezes, tentamos vez ou outra fazer as pazes. O problema é que somos, todas nós, muito teimosas e rasteiras, gritamos enlouquecidas em meio ao silêncio e, por isso, nos tornamos estranhas. Desconhecidas dentro de um mesmo corpo, vizinhas, confidentes e amantes. Aos poucos, com esforço e pesar, as estrofes estão se formando, o formato tão conhecido parece fazer fila, um após outro, repetindo uma ação no automática, algo natural e sem muitos porquês. Olhando de longe, parece uma dança, ensaiada e repetida tantas, tantas, tantas vezes... Começa, apaga, começa de novo, para, olha, volta, faz sentido, dá uma volta, olha em torno, "faz sentido mesmo?", dúvidas, vírgulas, pontos, acentos mal usados. É um vício, um alento, a busca pela rota de volta, a saída de onde nem entramos. Muitas voltas, como já feito antes, que parecem levar para o mesmo lugar, que na verdade é lugar nenhum. Sem sol, sem ar, sem começo e sem fim. O lugar que é evitado, porém não vencido. O lugar que, vez ou outra, ontem e hoje, provavelmente amanhã, tentaremos sair e dançar e rodar e... Acabaremos aqui. Aqui mesmo. Depois de todas as vírgulas, exatamente no.
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