Estou em uma rua desconhecida, está tudo escuro a minha volta e intintivamente fecho os meus braços ao redor de mim mesma para me proteger. Me pergunto sem parar como cheguei até aqui. Não lembro de absolutamente nada que possa ter ocasionado essa situação para lá de estranha. "Será que bebi demais? Ou será... Meu Deus, que não seja isso... será que me droguei, por isso não lembro de nada?". Não seria de se estranhar que eu tivesse feito alguma dessas loucuras, ainda mais com tudo o que anda acontecendo... Continuo andando bem devagar, olhando ao redor, buscando alguma identificação para descubrir que lugar é esse. Começo a encontrar algumas semelhanças nas janelinhas das casas, todas com estilo europeu, as portas coloridas, com tapetes de boas-vindas. Não sei ao certo onde estou, mas gostei daqui. Essa constatação me fez sentir mais segura e confortável.
Continuo dando voltas e mais voltas pelo que parece ser um bairro, até que todos os meus pensamentos, que até então estavam se colidindo na minha mente, correndo para todos os lados, tentando buscar um sentido para isso, são interrompidos bruscamente quando uma luz muito, muito forte aparece do nada. "Ok, sem pânico, sem pânico!", tento me acalmar. Mas, para piorar, a luz está se aproximando muito rapidamente, vindo exatamente... Na minha direção. Vejo que em volta de toda a iluminação e névoa, existe uma sombra. Me concentro nisso, tento identificar a todo custo o que é aquilo. "Ah droga! O que eu estou fazendo aqui afinal?". Para minha total e completa surpresa, alguém me respondeu:
- O que você está fazendo aqui? Bem, bem, bem... Você está aqui porque, finalmente, hoje é seu dia de sorte!
Está bem, se antes tudo já estava muito confuso, agora a porta da loucura se abriu. A voz, a luz, a sombra... São uma coisa só. E está falando comigo. E sim, definitivamente eu me droguei, essa é a explicação!
- Pois então mocinha, vamos logo ao que interessa, me diga o que você deseja. - a voz, que a cada minuto ganhava um corpo mais nítido, me pergunta.
- Oi? É comigo? - Sério que fiz essa pergunta? Em uma rua deserta? Seja o que for que eu tenha bebido/cheirado/fumado/qualquer coisa, me deixou ainda mais lenta que o de costume.
- Claaaaro mocinha, é com você. - Ele disse isso e, ao mesmo tempo, abriu os braços para mostrar o óbvio para mim. - Seu dia, sua sorte, peça o que quiser, aqui e agora!
- Pedir? Como assim pedir? Aliás, quem é você? Onde estamos? Por que eu me lembro...
- Ok ok! Não precisa explicar, entendi! - muito gentilmente ele fez calar a boca. - Você não sabe quem eu sou e nem para o que vim. Bom, olhe bem e adivinhe você.
Nesse momento, o pouco da sombra que o cobria, se dissipou. A luz forte que o envolvia, se apagou. Pude vê-lo totalmente e, claro!, é um gênio! Muito fácil, um gênio!
- Um gênio? - falando em voz alta, não fazia tanto sentido ele ser o que parecia ser.
- Bingo! Menina esperta! Agora, como você já viu inúmeras vezes nos filmes, me faça um pedido! - a ternura inicial estava meio encoberta pela impaciência. Eu não estava entendendo nada, mas resolvi simplesmente entrar na dança. Quem sabe depois de fazer o pedido (?), ele não resolvia me ajudar a entender onde estou e como cheguei aqui?
- Um pedido? Que estranho... Um só? Por que nos filmes...
- Um pedido apenas senhorita e se você fizer chacota da minha impossibilidade de te conceder mais dois, vou embora e levo seu pedido junto. - Ele falou com a voz ofendida, o que me fez sentir culpa e dó do tal gênio. Ele deve ser algum tipo de estágiario no negócio, ainda não tem plenos poderes.
- Está certo... Um pedido... Um pedido! - acho que todos já se colocaram hipoteticamente em frente a um gênio que te concede um desejo realizado, por isso, era de se esperar que fazer um pedido não seria tão difícil. - Um pedido...
- Posso te dar o que quiser. Dinheiro? Fama? Viagens? Ahh, vejo que gosta de viagens! Então, qual destino, diga-me agora e te mando para lá nesse mesmo minuto!
- Nossa, qualquer lugar? Qualquer coisa? - penso em diversas portas que poderiam se abrir se eu fizesse o pedido. Me imagino em Paris, tomando um café enquanto observo o Louvre... Ou então em Londres, andando pelas mesmas ruas que um dia os Beatles andaram... Uma satisfação doida passa por todo o meu corpo e quando estou prestes a fazer o desejo, algo maior e mais prazeroso passa correndo pela minha cabeça. - Já sei! Gênio, eu quero ele de volta! - sorrio cheia de expectativa. Expectativa essa que se desfaz assim que olho para o meu poço dos desejos em forma de homem. A cara dele não é feliz, pelo contrário.
- Ah mocinha... Que tal Eupora? Ásia? Ou melhor, que tal a Nova Zelândia? Lá tem praias tão lindas... - ele tenta me convencer, mas pelo jeito que me olha, ele percebe que não conseguirá.
- Gênio, você disse qualquer coisa! E, honestamente, você poderia me conceder milhões de desejos realizados, mas o único que eu quero de verdade é esse. Quero ele de volta. Quero nossos sonhos, nossos planos, todos de volta. Eu quero ele, Gênio! - não me continha mais de tanto entusiasmo. Quanta sorte, realmente meu dia de sorte! Depois de tanto tempo... Ele e eu... Eu e ele... Nós, juntos de novo...
- Minha menina... Nunca estive em uma posição tão difícil antes. Sempre me pedem coisas que eu posso dar em um piscar de olhos. Mas isso... Sinto em te dizer que isso não será possível. - Ele está triste também, todo cabisbaixo.
- Mas... Gênio, faz uma forcinha extra! - Enquanto falo isso, ele faz que não com a cabeça, bem devagarzinho. - Você disse qualquer coisa! Eu quero isso, quero SÓ isso.
Nesse momento, ficamos em silêncio total. Pensei que finalmente tinha convencido o Gênio e ele estaria fazendo acontecer e logo o meu desejo estaria materializado bem em minha frente. Entretanto, a única coisa que ele fez foi dar um suspiro bem alto e me dizer, com a voz cheia de ternura de novo, como se estivesse explicando algo muito difícil para uma criança:
- Eu peço mil desculpas... Poderia te dar uma infinidade de coisas... Mas isso... Isso está fora do meu alcance. - Tentei começar a protestar, mas ele fez um leve sinal com a cabeça e me fez ficar quieta. - Não posso trazê-lo de volta, pois isso seria ir contra a sua vontade. Não posso, não posso...
- Como assim? Contra a vontade dele? Não, mas ele quer. Ele... Quer, não quer? - Entrei no ritmo dele e estou, literalmente, falando como uma criança que acaba de descobrir que não ganhará presente de Natal. Porque, em minha mente, ele ainda me quer. Ele ainda acredita na gente dando certo, ele ainda pensa em mim antes de dormir, ele ainda não me esqueceu. Olho para aquele ser estranho que está parado em minha frente e seus olhos refletem uma pena imensa. Pena de mim. Depois do que pareceram ser horas, ele finalmente caminhou até onde eu estava e disse a única coisa que eu não queria - não podia - ouvir:
- Pequena, eis o problema: ele não te quer mais. Não te quer mais.
terça-feira, 29 de agosto de 2017
Y
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