Os dias estão ensolarados e cheios de calor. Mas por dentro, tudo tá muito cinza e congelante. A gente faz escolhas e, consequentemente, as escolhas fazem quem somos. Deveria existir uma forma da gente saber se a escolha que estamos fazendo é a escolha que a gente deveria estar fazendo. Não parece tão injusto a gente ter que tomar decisões baseados só nas aparências e no achismo e não poder ter nem uma ideiazinha do que será da vida pós-escolha feita?
Poucas coisas são tão frustrantes quanto escolher um caminho que era tão almejado e então descobrir que nada é, na verdade, como parecia ser. Que dor horrível descobrir as coisas feias no que parecia tão belo.
Um errinho desses, uma escolha errada, faz a gente passar por dias escuros, com um amargo na boca e um peso no peito. Caramba, "se eu soubesse... se eu tivesse imaginado...", aí a vida passa a ser vários e vários questionamentos, arrependimento e desejo de ter feito diferente.
Então, no final é melhor tentar enxergar a razão de todas as coisas serem como são e tirar proveito do que tem pra tirar proveito. Os dias ficam mais arrastados, cansativos, um choro fica preso na garganta, uma solidão vira nossa sombra... Mas não adianta, é preciso continuar, é preciso acordar amanhã e depois e ir em frente, ir acreditando e ir sobrevivendo. Uma hora, sem mais nem menos, um sopro de alegria passa pela gente, fica por pouco tempo, mas o suficiente pra dar força pra aguentar todo o resto.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Se eu soubesse...
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Até breve?
Mas que saudade vou sentir da sua voz. Que falta fará seus sorrisos. Como vou passar um dia inteiro seu olhar nos teus olhos? Onde estará a motivação ao levantar, se eu sei que os nossos caminhos não vão mais se cruzar? É um pequeno adeus todo dia...
É complexo e, ao mesmo tempo, simples. Tão simples que eu não consigo enxergar em meio a tudo isso. Tá nublado, tá chovendo e eu espero que você me entenda. Parece tudo certo, mas ao mesmo tempo tem um nó errado, as peças não se encaixam ou sou que tô jogando o jogo errado e ainda não percebi. Os dias vão passar, aí virão os meses, as árvores vão florescer e depois morrer de novo... E quem pode falar o que será de nós? Quem arrisca um palpite de como estaremos, onde, com quem? Eu não sei... Criei tantos planos e sonhei acordada tantos sonhos, mas duvidei de todos eles. Duvidei das provas e das certezas. Duvidei de mim e duvidei de você.
O que vai ser do amanhã, alguém me diz. Não tem resposta para o que a gente já sabia. Um dia eu disse, vou dizer hoje de novo e, talvez, precise repetir mais uma mil vezes... Que prazer - e que alívio! - saber que estamos debaixo do mesmo céu e estrelas. Envolta de nós sempre estará esse universo, independente do que aconteça. E, se um dia esse mesmo universo sorrir pra gente, quem sabe, quem pode dizer e apostar... A gente não consegue sorrir de volta.
terça-feira, 29 de agosto de 2017
Y
Estou em uma rua desconhecida, está tudo escuro a minha volta e intintivamente fecho os meus braços ao redor de mim mesma para me proteger. Me pergunto sem parar como cheguei até aqui. Não lembro de absolutamente nada que possa ter ocasionado essa situação para lá de estranha. "Será que bebi demais? Ou será... Meu Deus, que não seja isso... será que me droguei, por isso não lembro de nada?". Não seria de se estranhar que eu tivesse feito alguma dessas loucuras, ainda mais com tudo o que anda acontecendo... Continuo andando bem devagar, olhando ao redor, buscando alguma identificação para descubrir que lugar é esse. Começo a encontrar algumas semelhanças nas janelinhas das casas, todas com estilo europeu, as portas coloridas, com tapetes de boas-vindas. Não sei ao certo onde estou, mas gostei daqui. Essa constatação me fez sentir mais segura e confortável.
Continuo dando voltas e mais voltas pelo que parece ser um bairro, até que todos os meus pensamentos, que até então estavam se colidindo na minha mente, correndo para todos os lados, tentando buscar um sentido para isso, são interrompidos bruscamente quando uma luz muito, muito forte aparece do nada. "Ok, sem pânico, sem pânico!", tento me acalmar. Mas, para piorar, a luz está se aproximando muito rapidamente, vindo exatamente... Na minha direção. Vejo que em volta de toda a iluminação e névoa, existe uma sombra. Me concentro nisso, tento identificar a todo custo o que é aquilo. "Ah droga! O que eu estou fazendo aqui afinal?". Para minha total e completa surpresa, alguém me respondeu:
- O que você está fazendo aqui? Bem, bem, bem... Você está aqui porque, finalmente, hoje é seu dia de sorte!
Está bem, se antes tudo já estava muito confuso, agora a porta da loucura se abriu. A voz, a luz, a sombra... São uma coisa só. E está falando comigo. E sim, definitivamente eu me droguei, essa é a explicação!
- Pois então mocinha, vamos logo ao que interessa, me diga o que você deseja. - a voz, que a cada minuto ganhava um corpo mais nítido, me pergunta.
- Oi? É comigo? - Sério que fiz essa pergunta? Em uma rua deserta? Seja o que for que eu tenha bebido/cheirado/fumado/qualquer coisa, me deixou ainda mais lenta que o de costume.
- Claaaaro mocinha, é com você. - Ele disse isso e, ao mesmo tempo, abriu os braços para mostrar o óbvio para mim. - Seu dia, sua sorte, peça o que quiser, aqui e agora!
- Pedir? Como assim pedir? Aliás, quem é você? Onde estamos? Por que eu me lembro...
- Ok ok! Não precisa explicar, entendi! - muito gentilmente ele fez calar a boca. - Você não sabe quem eu sou e nem para o que vim. Bom, olhe bem e adivinhe você.
Nesse momento, o pouco da sombra que o cobria, se dissipou. A luz forte que o envolvia, se apagou. Pude vê-lo totalmente e, claro!, é um gênio! Muito fácil, um gênio!
- Um gênio? - falando em voz alta, não fazia tanto sentido ele ser o que parecia ser.
- Bingo! Menina esperta! Agora, como você já viu inúmeras vezes nos filmes, me faça um pedido! - a ternura inicial estava meio encoberta pela impaciência. Eu não estava entendendo nada, mas resolvi simplesmente entrar na dança. Quem sabe depois de fazer o pedido (?), ele não resolvia me ajudar a entender onde estou e como cheguei aqui?
- Um pedido? Que estranho... Um só? Por que nos filmes...
- Um pedido apenas senhorita e se você fizer chacota da minha impossibilidade de te conceder mais dois, vou embora e levo seu pedido junto. - Ele falou com a voz ofendida, o que me fez sentir culpa e dó do tal gênio. Ele deve ser algum tipo de estágiario no negócio, ainda não tem plenos poderes.
- Está certo... Um pedido... Um pedido! - acho que todos já se colocaram hipoteticamente em frente a um gênio que te concede um desejo realizado, por isso, era de se esperar que fazer um pedido não seria tão difícil. - Um pedido...
- Posso te dar o que quiser. Dinheiro? Fama? Viagens? Ahh, vejo que gosta de viagens! Então, qual destino, diga-me agora e te mando para lá nesse mesmo minuto!
- Nossa, qualquer lugar? Qualquer coisa? - penso em diversas portas que poderiam se abrir se eu fizesse o pedido. Me imagino em Paris, tomando um café enquanto observo o Louvre... Ou então em Londres, andando pelas mesmas ruas que um dia os Beatles andaram... Uma satisfação doida passa por todo o meu corpo e quando estou prestes a fazer o desejo, algo maior e mais prazeroso passa correndo pela minha cabeça. - Já sei! Gênio, eu quero ele de volta! - sorrio cheia de expectativa. Expectativa essa que se desfaz assim que olho para o meu poço dos desejos em forma de homem. A cara dele não é feliz, pelo contrário.
- Ah mocinha... Que tal Eupora? Ásia? Ou melhor, que tal a Nova Zelândia? Lá tem praias tão lindas... - ele tenta me convencer, mas pelo jeito que me olha, ele percebe que não conseguirá.
- Gênio, você disse qualquer coisa! E, honestamente, você poderia me conceder milhões de desejos realizados, mas o único que eu quero de verdade é esse. Quero ele de volta. Quero nossos sonhos, nossos planos, todos de volta. Eu quero ele, Gênio! - não me continha mais de tanto entusiasmo. Quanta sorte, realmente meu dia de sorte! Depois de tanto tempo... Ele e eu... Eu e ele... Nós, juntos de novo...
- Minha menina... Nunca estive em uma posição tão difícil antes. Sempre me pedem coisas que eu posso dar em um piscar de olhos. Mas isso... Sinto em te dizer que isso não será possível. - Ele está triste também, todo cabisbaixo.
- Mas... Gênio, faz uma forcinha extra! - Enquanto falo isso, ele faz que não com a cabeça, bem devagarzinho. - Você disse qualquer coisa! Eu quero isso, quero SÓ isso.
Nesse momento, ficamos em silêncio total. Pensei que finalmente tinha convencido o Gênio e ele estaria fazendo acontecer e logo o meu desejo estaria materializado bem em minha frente. Entretanto, a única coisa que ele fez foi dar um suspiro bem alto e me dizer, com a voz cheia de ternura de novo, como se estivesse explicando algo muito difícil para uma criança:
- Eu peço mil desculpas... Poderia te dar uma infinidade de coisas... Mas isso... Isso está fora do meu alcance. - Tentei começar a protestar, mas ele fez um leve sinal com a cabeça e me fez ficar quieta. - Não posso trazê-lo de volta, pois isso seria ir contra a sua vontade. Não posso, não posso...
- Como assim? Contra a vontade dele? Não, mas ele quer. Ele... Quer, não quer? - Entrei no ritmo dele e estou, literalmente, falando como uma criança que acaba de descobrir que não ganhará presente de Natal. Porque, em minha mente, ele ainda me quer. Ele ainda acredita na gente dando certo, ele ainda pensa em mim antes de dormir, ele ainda não me esqueceu. Olho para aquele ser estranho que está parado em minha frente e seus olhos refletem uma pena imensa. Pena de mim. Depois do que pareceram ser horas, ele finalmente caminhou até onde eu estava e disse a única coisa que eu não queria - não podia - ouvir:
- Pequena, eis o problema: ele não te quer mais. Não te quer mais.
domingo, 30 de julho de 2017
No .
Sei o que quero falar, mas não sei com que palaras dizer, quais caminhos tomar, se alguém vai me ouvir. Coloco a caneta de lado, o papel em branco parece um dia fechado, busco uma luz, mas a neblina me cega. Fecho os olhos e as letras voam em minha direção, perdidas assim como eu, com sérias dificuldades para se juntarem e formarem palavras com nexo, cor e sentido. Só que sei que elas estão lá, esperando para o encontro perfeito, a organização que as farão ter valor e príncipio. As letras, frases e rimas são minhas velhas amigas, elas moram aqui, em mim, há tanto tempo, talvez desde sempre, mas nos perdermos umas das outras, brigamos algumas vezes, tentamos vez ou outra fazer as pazes. O problema é que somos, todas nós, muito teimosas e rasteiras, gritamos enlouquecidas em meio ao silêncio e, por isso, nos tornamos estranhas. Desconhecidas dentro de um mesmo corpo, vizinhas, confidentes e amantes. Aos poucos, com esforço e pesar, as estrofes estão se formando, o formato tão conhecido parece fazer fila, um após outro, repetindo uma ação no automática, algo natural e sem muitos porquês. Olhando de longe, parece uma dança, ensaiada e repetida tantas, tantas, tantas vezes... Começa, apaga, começa de novo, para, olha, volta, faz sentido, dá uma volta, olha em torno, "faz sentido mesmo?", dúvidas, vírgulas, pontos, acentos mal usados. É um vício, um alento, a busca pela rota de volta, a saída de onde nem entramos. Muitas voltas, como já feito antes, que parecem levar para o mesmo lugar, que na verdade é lugar nenhum. Sem sol, sem ar, sem começo e sem fim. O lugar que é evitado, porém não vencido. O lugar que, vez ou outra, ontem e hoje, provavelmente amanhã, tentaremos sair e dançar e rodar e... Acabaremos aqui. Aqui mesmo. Depois de todas as vírgulas, exatamente no.
domingo, 7 de maio de 2017
Você
Nosso início foi desanimador, eu sei. Você vivia me lembrando de todas as vezes que eu, sem explicação, te afastava de mim e arrumava péssimas desculpas para não sair com você. Mesmo te explicando detalhadamente, sei que isso sempre foi algo que trouxe uma certa insegurança para nosso relacionamento (aliás, posso me referir ao que tivemos como um relacionamento?). Depois dos meses de insistência e do nascimento da nossa amizade, é que percebi o quanto você era especial e o quanto eu queria te ter por perto, bem perto. Em umas das nossas loucas conversas, percebi sua doçura escondida e, para minha total surpresa, quis essa doçura para mim. Então, eis que de fato nossa história tomou uma forma mais real e nos tornamos algo além das conversas sem fim.
Mês um, você e eu cada dia mais presos na nossa própria realidade. Como nos entendiámos, como era fácil falar com você, dividir meus medos, meus planos, minhas
vontades. Você, relutante como uma porta emperrada, se abria aos poucos e eu, surpresa novamente, gostava mais e mais do que descobria escondido debaixo da casca grossa. Você se tornava tão complexo e tão interessante, ao mesmo tempo. Que viagem louca era estar com você, mas ao mesmo tempo era suave, calma e silenciosa.
Mês dois, meu preferido com toda certeza. É para esse Janeiro que eu queria, desesperadamente, voltar. É para às noites de beijos e conversas que eu queria voltar; é
para as cervejas compartilhadas, os brigadeiros dividos, os sonhos sussurrados, que eu queria retornar; as manhãs iniciadas tão cedo, as tardes cheias de coisa alguma, as brincadeiras, as suas fotos tão intímas que você fez questão de me mostrar... Foi nesse mês que você abriu a maior brecha para eu entrar e só hoje eu percebo que não entrei como deveria. Eu tive medo da sua reação, caso eu entrasse fazendo o maior barulho e exigindo tanto espaço; tive medo de entrar e gostar tanto e não querer ir embora; tive medo de você perceber que antes, sem mim, era melhor. Eu tive medo, tenho medo, medo, medo que me acompanha nas coisas mais sútis e importantes.
Mês três, foi um borrão parecido com o mês anterior, mas ainda melhor. Você, tão frágil como você sempre foi, me colocou um pouquinho mais para dentro da sua vida. E eu, ainda com meus fantasmas, não tentei em nenhum momento colocar você para dentro da minha vida. Mas olha, deixa eu te explicar, não era por falta de vontade, eu queria você todo na minha vida, até nas partes chatas e problemáticas. Só que eu enfiei na minha cabeça que, se você entrasse, ia odiar a bagunça e ia sair correndo de tudo, de mim, de nós. E, tenta entender, àquela altura eu não já não suportava a ideia de te ver partir. Já era uma coisa monstruosa te imaginar longe.
Mês quatro, lembra a cena ridícula de ciúme que eu protagonizei? Foi ocasionada por isso também, eu juro! Que mês mais louco. A gente tentou ficar longe, eu fui de fato embora (literalmente), mas eu queria voltar, eu queria estar com você mais do que queria viver o meu sonho de ir embora. Eu sentia uma saudade tão dolorida dos nossos dias juntos, que nem fiz tanta força para ficar, para tentar, para perpertuar meu sonho. Nunca contei isso para ninguém, mas não fiz força para ficar lá porque tudo que eu queria era voltar. Por sua causa. Não me julgue, não ria de mim. Eu já te amava e nem sabia.
Mês cinco, esse mês nem deveria contar, mas conta. Tantas idas e vindas, tantos desencontros e reencontros marcados. Eu só desejava que tudo voltasse como era antes,
mas não era, eu sentia que algo tinha se partido. Mesmo assim, mesmo com essa lacuna, a gente foi levando e sendo levado. Quando te vi arrumando suas malas, todo feliz, me obriguei a ser feliz por você, mesmo sabendo que estava te perdendo para o mundo. Você veria tantas coisas novas, tantas pessoas novas e eu seria só mais uma memória. Eu não queria ser memória, apesar de não querer ser esquecida. Queria sim ser presente, mesmo que adiado para o futuro. Esperei você se despedir de mim com promessas guardadas pro seu retorno, mas você só me disse tchau. Seco e simples, sem nem um até logo. Mas eu esperei você, ah sim.
Mês seis, esse de fato nem conta, me desculpa por estar incluindo-o aqui. Esse mês resume-se a sua volta e sua ida. A volta foi maravilhosa, compensou toda espera. Sentir seu cheiro, seu gosto, você inteiro depois de dias e dias longe, foi mais uma prova que eu estava me perdendo mais e mais. Ou, olhando com mais calma, já tinha me perdido faz tempo. Foi tão bom, eu ainda lembro daquele dia como se fosse agora. Mas seu tempo (nosso tempo?) se esgotou e você precisou partir, tocar o barco, virar a página. Inclusive, palmas para você, que vira a página de forma tão fácil. Enfim você se foi, não deixou atrás de si nada além de lembranças, uma pequena mágoa e muito amor.
Eu poderia continuar contando nossos meses, você sabe que sim. Mesmo longe, tão longe, éramos nós ainda. Éramos nós nas conversas até tarde; éramos nós nos segredos ainda divididos; éramos eu e você na vontade de estar perto, mesmo que tão disfarçada. Quanto tempo passamos assim... Um ano, talvez. Um ano esperando um sinalzinho seu e um rompante de coragem meu para definir tudo isso. Um ano com tudo pausado, só aguardando para continuar o que eu não queria ter parado. Mas nem toda espera resulta em algo, não é mesmo? Esperei, esperei... E você saiu por aí, longe de mim. Não sei o motivo, não entendo suas razões, mas tudo
isso te colocou longe de mim. Estranho como fatos misturam-se com os dias, as semanas, os meses. Estranho que tudo vire nada, do dia para a noite. Você não acha?
P.S.: Mês qualquer, eu venci parte dos meus medos e disse tudo que sentia por você. Arreganhei meu coração, cuspi todas as verdades que eu escondi... Eu me despi em
palavras, todas para você. Obrigada pelo silêncio, ele me respondeu tudo que eu precisava saber.
Mês um, você e eu cada dia mais presos na nossa própria realidade. Como nos entendiámos, como era fácil falar com você, dividir meus medos, meus planos, minhas
vontades. Você, relutante como uma porta emperrada, se abria aos poucos e eu, surpresa novamente, gostava mais e mais do que descobria escondido debaixo da casca grossa. Você se tornava tão complexo e tão interessante, ao mesmo tempo. Que viagem louca era estar com você, mas ao mesmo tempo era suave, calma e silenciosa.
Mês dois, meu preferido com toda certeza. É para esse Janeiro que eu queria, desesperadamente, voltar. É para às noites de beijos e conversas que eu queria voltar; é
para as cervejas compartilhadas, os brigadeiros dividos, os sonhos sussurrados, que eu queria retornar; as manhãs iniciadas tão cedo, as tardes cheias de coisa alguma, as brincadeiras, as suas fotos tão intímas que você fez questão de me mostrar... Foi nesse mês que você abriu a maior brecha para eu entrar e só hoje eu percebo que não entrei como deveria. Eu tive medo da sua reação, caso eu entrasse fazendo o maior barulho e exigindo tanto espaço; tive medo de entrar e gostar tanto e não querer ir embora; tive medo de você perceber que antes, sem mim, era melhor. Eu tive medo, tenho medo, medo, medo que me acompanha nas coisas mais sútis e importantes.
Mês três, foi um borrão parecido com o mês anterior, mas ainda melhor. Você, tão frágil como você sempre foi, me colocou um pouquinho mais para dentro da sua vida. E eu, ainda com meus fantasmas, não tentei em nenhum momento colocar você para dentro da minha vida. Mas olha, deixa eu te explicar, não era por falta de vontade, eu queria você todo na minha vida, até nas partes chatas e problemáticas. Só que eu enfiei na minha cabeça que, se você entrasse, ia odiar a bagunça e ia sair correndo de tudo, de mim, de nós. E, tenta entender, àquela altura eu não já não suportava a ideia de te ver partir. Já era uma coisa monstruosa te imaginar longe.
Mês quatro, lembra a cena ridícula de ciúme que eu protagonizei? Foi ocasionada por isso também, eu juro! Que mês mais louco. A gente tentou ficar longe, eu fui de fato embora (literalmente), mas eu queria voltar, eu queria estar com você mais do que queria viver o meu sonho de ir embora. Eu sentia uma saudade tão dolorida dos nossos dias juntos, que nem fiz tanta força para ficar, para tentar, para perpertuar meu sonho. Nunca contei isso para ninguém, mas não fiz força para ficar lá porque tudo que eu queria era voltar. Por sua causa. Não me julgue, não ria de mim. Eu já te amava e nem sabia.
Mês cinco, esse mês nem deveria contar, mas conta. Tantas idas e vindas, tantos desencontros e reencontros marcados. Eu só desejava que tudo voltasse como era antes,
mas não era, eu sentia que algo tinha se partido. Mesmo assim, mesmo com essa lacuna, a gente foi levando e sendo levado. Quando te vi arrumando suas malas, todo feliz, me obriguei a ser feliz por você, mesmo sabendo que estava te perdendo para o mundo. Você veria tantas coisas novas, tantas pessoas novas e eu seria só mais uma memória. Eu não queria ser memória, apesar de não querer ser esquecida. Queria sim ser presente, mesmo que adiado para o futuro. Esperei você se despedir de mim com promessas guardadas pro seu retorno, mas você só me disse tchau. Seco e simples, sem nem um até logo. Mas eu esperei você, ah sim.
Mês seis, esse de fato nem conta, me desculpa por estar incluindo-o aqui. Esse mês resume-se a sua volta e sua ida. A volta foi maravilhosa, compensou toda espera. Sentir seu cheiro, seu gosto, você inteiro depois de dias e dias longe, foi mais uma prova que eu estava me perdendo mais e mais. Ou, olhando com mais calma, já tinha me perdido faz tempo. Foi tão bom, eu ainda lembro daquele dia como se fosse agora. Mas seu tempo (nosso tempo?) se esgotou e você precisou partir, tocar o barco, virar a página. Inclusive, palmas para você, que vira a página de forma tão fácil. Enfim você se foi, não deixou atrás de si nada além de lembranças, uma pequena mágoa e muito amor.
Eu poderia continuar contando nossos meses, você sabe que sim. Mesmo longe, tão longe, éramos nós ainda. Éramos nós nas conversas até tarde; éramos nós nos segredos ainda divididos; éramos eu e você na vontade de estar perto, mesmo que tão disfarçada. Quanto tempo passamos assim... Um ano, talvez. Um ano esperando um sinalzinho seu e um rompante de coragem meu para definir tudo isso. Um ano com tudo pausado, só aguardando para continuar o que eu não queria ter parado. Mas nem toda espera resulta em algo, não é mesmo? Esperei, esperei... E você saiu por aí, longe de mim. Não sei o motivo, não entendo suas razões, mas tudo
isso te colocou longe de mim. Estranho como fatos misturam-se com os dias, as semanas, os meses. Estranho que tudo vire nada, do dia para a noite. Você não acha?
P.S.: Mês qualquer, eu venci parte dos meus medos e disse tudo que sentia por você. Arreganhei meu coração, cuspi todas as verdades que eu escondi... Eu me despi em
palavras, todas para você. Obrigada pelo silêncio, ele me respondeu tudo que eu precisava saber.
terça-feira, 7 de março de 2017
Bilhete
Hoje acordei cedo, com vontade de resolver as mil e uma
pendências que sempre vou deixando para depois. Abri os olhos, pulei da cama,
com uma pressa gigante de deixar tudo certo, arrumado, em seu devido lugar.
Coloquei uma camiseta velha e comecei a tirar tudo do meu guarda-roupa, tudo
que era velho e não prestava mais. Em poucos minutos eu estava em volta do mais
completo caos: meias, camisas e casacos há muito esquecidos; livros, agendas de
anos anteriores, revistas da minha época de adolescente... Estava tudo ali,
espalhado pelo casa, no sofá da sala até na mesa da cozinha. Em meio a poeira
que já se levantava e a minha vontade de continuar descobrindo os tesouros
escondidos no fundo do baú, encontrei surrado álbum de fotografias. E, como
sempre, a chance de rever fotos antigas e lembrar os acontecimentos do passado,
me dominaram. Larguei toda aquela bagunça, me sentei na poltrona mais próxima e
comecei a viajar no passado.
Logo na primeira foto, uma onda de nostalgia quase me
afogou. Era uma foto muito mal tirada, sem foco algum, mas que retratava muito
bem os rostos vermelhos de sol e cobertos de sorrisos. Aquela foto, eu me
lembro bem agora, foi tirada em nossa primeira viagem, aquela em que ainda
éramos melhores amigos e que nem imaginávamos a reviravolta que nossas vidas
dariam. Eu mal me lembrava o motivo de tanta risada, nos conhecendo bem posso
apostar que naquele momento a gente ria descontroladamente de algo sem sentido.
Bem nossa cara mesmo. As próximas fotos foram tiradas logo no comecinho do
nosso namoro. Aqueles dias beiravam a perfeição, com exceção, claro!, dos
momentos tensos que passamos, tentando fazer a travessia entre amizade e
namoro. Não foi tão simples quanto parecia, mas parece que conseguimos, não é
mesmo?
Continuei virando as páginas, rindo de algumas fotos,
principalmente as fotos da época que você usava aquele corte de cabelo horrível
(ok, era a moda do momento, então é compreensível...), tentando lembrar de
outras, o que estava acontecendo naquele momento exato em que o clique foi
feito. Nesse vai e vem de páginas e momentos, encontrei um papelzinho bem
dobrado, parecendo esquecido ali naquele álbum há milênios. Minha primeira
reação foi amassar o papelzinho e jogá-lo na pilha que estava bem à minha
frente – toda faxina tem uma pilha dessas, a “pilha de papéis, embalagens e
mais coisas que são lixos, mas que por alguma razão, estão todas no nosso
guarda-roupa” -, porém uma curiosidade bateu muito forte e decidi abrir o
papel. Era uma passagem de trem, antiga, daquelas que nem existem mais, com
destino a essa cidade mesmo. Eu lembro desse dia como se fosse hoje, agora.
Lembro também os dias (semanas, meses e anos) que os antecederam, as dúvidas
que ainda tínhamos, seu medo de largar todas as coisas em sua cidade e embarcar
no meu sonho. Havia dias em que você acordava decidida: ia se mudar pra cá e
não se discutia mais isso. Passavam, então, alguns minutos e você mudava de
ideia, dizendo “não posso deixar de sonhar meus sonhos, para sonhar os seus”.
Ficávamos angustiados demais, você por causa do tamanho da escolha que
precisava fazer e eu porque sabia que sua escolha ia causar uma mudança
irreversível em minha vida também. Foi naquela época, mais do que nenhuma
outra, que tive certeza absoluta do que eu queria e que você fazia parte do
pacote.
Você se lembra do tempo que demos, uns dias que tiramos
para pensar em tudo que queríamos e como poderíamos unir tudo isso? A distância
que nos separava não era mais física apenas, de quilômetros e quilômetros entre
minha nova cidade e a sua. A decisão que precisava ser tomada estava nos
deixando longe um do outro, tão longe que nem amigos conseguíamos ser. Nunca vivi dias tão longos e nem senti
tamanha ansiedade, esperando pacientemente (nem tão pacientemente assim) você
fazer sua escolha. Cheguei até comprar um guarda-roupa maior, crente que você
decidiria por nós e viria para cá, mas essa onda de otimismo passou rápido e
logo devolvi o móvel. O vendedor deve ter me odiado, mas fazer o quê? Depois de
duas semanas, que mais pareceram dois anos, você simplesmente apareceu na minha
porta (usou esse bilhete de trem que está aqui nas minhas mãos agora, todo
dobradinho e rasgado nas pontas) e disse, super rápido e alto demais, como que
para ter certeza que você mesma não
mudaria de ideia: “deixei de sonhar os meus sonhos, para sonhar os nossos
sonhos a partir de agora”. Desde aquele dia, você dominou minha casa, enchendo
cada canto com sua decoração duvidosa e sua bagunça estranha. De repente, tudo
ficou muito colorido, confortável e barulhento.
Voltei à realidade, olhei em torno e percebi que
precisava terminar aquela tal arrumação e que o propósito do dia era resolver o
que eu vinha postergando há meses... Pensei seriamente em jogar o bilhete na
pilha de lixos, mas então lembrei que a próxima grande faxina era sua e resolvi
deixar o bilhete ali no álbum, no mesmo lugar, como se eu nem tivesse toca
nele. Eu sabia, assim como sabia tudo a seu respeito, que você faria o mesmo
caminho que eu fiz esta manhã e chegaria nesse mesmo ponto. Você, então, se
sentaria nessa mesma poltrona, olharia as fotos e se recordaria das mesmas
coisas que eu recordei, até chegar ao bilhete. E o bilhete, com seu nome e
tudo, te faria lembrar do que te trouxe aqui, até com maiores detalhes, já que
tudo te envolve de uma forma maior. Assim, quando eu chegar em casa, depois do
trabalho, e ir te dizer oi, você me dará aquele sorriso cheio de segredo, com
todas memórias vivas em você e tudo isso, até essa bagunça enorme em que se
encontra minha casa, terá valido a pena.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Palavras, palavras...
Que esse vento que bagunça meu cabelo leve até você todas as palavras não ditas, que se amontoaram dentro de mim assim como folhas velhas , que caíram das árvores, se ajuntam nas esquinas da vida. Que as letras se tornem frases e as frases tornem-se música para seus ouvidos. Que tudo que guardei esse tempo todo se torne claro para você. Que a nossa conversa enfim aconteça, que a espera tenha amadurecido a vontade, deixando-a no ponto certo. Tem que ser agora, tem que ser já.Se demorar mais um pouco, meu bem, a vontade passa do ponto. E estraga.
Espero que você entenda, acredite, retribua cada uma das promessas silenciosas, pedidos incompletos, gestos não formados. Quero que você sinta a mesma energia que senti no momento que cada dessas palavras nasceu em mim. Se possível transforme esses pequenos versos num poema maior. Multiplique as rimas, extravase o ritmo, transborde ginga. Assim, você aí e eu aqui, longe e perto, junto ou desviado, conseguiremos, talvez, fazer dessa nossa história cheia de acordes graves, uma suave bossa nova.
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